terça-feira, 20 de maio de 2008

críticaacrítica

apesar do risco que é o sujeito inaugurar um blogue e depois descontinuar a bloguice, considerando que tudo o que é virtual demanda ainda um esforço real, criei o meu próprio blogue para parar de repetir em festas e outros ambientes inoportunos, as minhas opiniões inoportunas sobre uma série de coisas inoportunas que acontecem por aí.
ter um blog é muito mais interessante do que ficar repetindo a ladainha 
e ser tomado por chato. vamos ver no que dá. me perdôem a chatice e uma certa inspiração Nelson Rodriguiana excessiva, estou ainda vivamente impressionado com a leitura do "Óbvio ululante", em edição estilosinha para ser digerida em lugares oportunos como a praia com um sorriso irônico no rosto. taí um cara que soube como ninguém ser inoportuno. precisa de um baita oportunismo para sê-lo, mas a cariocada ajuda.

O primeiro assunto que me ocorre antes que fique frio, falar em oportunismo é a recém realizada virada cultural, objeto de meus ataques no almoço de domingo. Eu sei que sôo (?) chato ao dizê-lo, mas acho que essa história é uma bobagem enorme... porquê? primeiro cumpre esclarecer que o que eu acho bacana dela é o uso inusitado que a população faz da cidade nessas 24 hs. pretexto pra muita gente que sequer sabe onde a xavier de toledo faz a curva ver e perceber as qualidades do centro, situação construída para o encontro (e contato, inclusive físico e bem de perto) de classes sociais diferentes e de gente de outros recantos dessa metrópole. até aí muito bacana, divertido, inusitado, algo vagamente "reclaim the streets".
Mas... tentando acompanhar a programação, só se conseguia ver o fim de cada um dos shows e longos intervalos técnicos, donde aflora a questão: se é pra ter shows, porque não fazê-los espalhados ao longo do ano, como eram os finados shows da praça da paz do ibirapuera ou os lendários shows no Anhangabaú realizados durante a gestão da Erundina? Porque pegar a verba, seja lá donde ela venha, de uma secretaria de cultura e gastar tudo num dia só? antes que alguém me esfregue o óbvio ululante na cara, eu mesmo o farei: muito melhor do que ter uma programação constante e consequente é torrar toda a grana num evento midiático pacas, partindo da consagrada macaquice brasileira de copiar algo que funciona no estrangeiro. as tais noites brancas parisienses, até onde sei e até onde a prima Cláudia me informa, surgiram para abrir as portas dos serviços públicos parisienses (isso inclui museus, centros culturais, piscinas públicas e equipamentos esportivos, além das repartições) à população que não podia frequentá-los ou conhecê-los nos horários habituais, colocando inclusive os dirigentes e funcionários ali em contato direto com a população. Numa dessas o prefeito de Paris tomou uma facada de um árabe doido. Será que o Kassab tava lá no meio do povo, se apertando as três da manhã pra ver o já amanhecido show dos Mutantes?
Quero dizer com tudo isso para a gente ter cuidado na hora de aplaudir e achar isso tudo o máximo porque em termos de política pública para cultura, isso é um tremendo desastre. não é fácil dizê-lo, os artistas que fizeram shows memoráveis (o mais bacana foi o da Orquestra Imperial no domingão de sol) e foram contratados pela prefeitura não o dirão. a pobreza cultural (espiritual?) é tamanha que quando nos atiram umas pipocas, nós achamos o máximo. a gente se esquece de vários espaços culturais públicos sucateados, se esquece que o auditório do ibirapuera tem uma abertura pra fora pra os shows serem de graça (eu nunca vi!), se esquece da Oca ôca e do que fizeram com os nossos queridos CEUs.
O companheiro blogueiro Andrei me alertou que vai ter o Herbie Hancock no parque Villa Lobos dia 1 de junho, as 15:00hs. é claro que eu estarei lá, mas nem por isso deixo de dar aqui o meu recado: seu Kassab, vá tomar banho na soda (soda cáustica, pra quem não entendeu o antigo complemento do dito popular. não é soda limonada não) 


2 comentários:

Anónimo disse...

isso mesmo: show do herbie hancock na certeza, dia um. esse vai ser dubon.
sobre a virada, é claro, concordo em pleno contigo, camarada. nessa eu só passei de manhã cedo na sta ifigênia, por acaso, pra comprar meu rádio, e vi uns palcos em montagem ainda... nem quis ficar. a do ano passado deu no que deu, corri da policia pra liberdade e peguei um certo bode do mega-evento. já não participo de mostras, nem festivais: agora cortei também viradas, culturais ou esportivas.

Unknown disse...

Tarde demais...o frio já chegou.
Essa cidade tem muito para oferecer, mas parece que todos tendem a maximizar os seus problemas –sim sim, isso aqui é de fato um emaranhado de asfalto poluído e venenoso. Mas é mais.
A proposta de virar a madrugada em meio a shows, peças e diversas outras manifestações artísticas é apetitosa. É, ok, problemas, o circo, o pão, a verba, a política, aliás, que tal o Minc, que, cumpre esclarecer - !só para constar, gostou hein, esta até usando! -, chegou chegando, performático, midiático e tudo mais. É tudo política, é tudo uma merda mesmo quando não é, fede mais que a Sé a noite, mas aí é mais, é arte. Aproveita. Goza enquanto dá.
O evento é interessante e, particularmente esse ano sua organização foi impecável até onde pude constatar. Não participei de longos intervalos técnicos, preferi fazer escolhas e apreciar shows inteiros. Domingo, 10 da noite, eu cansada, descabelada mas ainda assim bem acompanhada admirei surpresa a limpeza da São Luis e a rapidez com que tudo foi recolocado em seu lugar. Devido...aí já não sei.
Admirei ainda mais a mistura de gente, a verdadeira São Paulo, concentrada, buscando matar sua fome. Quem sabe a trilha de pipocas não mostra um pouco mais do que ha por aí, de bom, de ruim, para apreciar ou fazer pensar, criticar e sugerir. Integrar tanta gente, tanta gente diferente, é difícil. Tenho minhas dúvidas acerca da integração que eventos pontuais podem gerar (alem de custar) – digo porque é o que mais aprecio nas viradas, um quase carnaval de gente misturada na mesma panela cozinhando junto de verdade. Como eu ainda brincava de Barbie durante a gestão Erundina, não faço idéia do que acontecia por lá... parece fabuloso, mas desconheço o resultado. O que vi, na virada, foi uma integração muito feliz.
Na minha agenda já estava marcado o evento. Herbie Hancock e Macy Gray bom, bacana, lindo, eu vou, longe, elitista...